Como as empresas humanizadas vão revolucionar a gestão e o marketing

"Olhar as tendências futuras pode ser encarado com pragmatismo ou esperança. Aqui, compartilho uma visão esperançosa sobre a evolução da gestão empresarial e do marketing rumo a relações mais humanas. Essa é uma tendência que tem o potencial de se desdobrar em muitas vertentes e mudar a forma como empresas e pessoas se relacionam.
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Philip Kotler recentemente afirmou que a relação que as empresas devem estabelecer com seus ecossistemas é semelhante às relações de uma cidade pequena. Em uma cidade pequena, todos se conhecem. Se você fosse dono do único posto de gasolina, poderia até abusar do seu poder e vender gasolina mais cara, já que as pessoas não iriam rodar dezenas de quilômetros até outra cidade para abastecer.
No entanto, isso não faria de você alguém muito querido. No nosso mundo globalizado, cheio de megalópoles, as empresas e executivos se escondem por trás da impessoalidade dessas relações para realizar ações que não seriam exatamente éticas e que receberiam olhares de desaprovação se fossem feitas numa cidade pequena.
Mas os exemplos mostram que os olhares de desaprovação estão presentes até em negócios teoricamente impessoais. Por isso, as relações estabelecidas entre as empresas devem se pautar menos pelo poder de barganha e mais pelo respeito comunitário. Se a tendência é essa maior integração com o ecossistema, como isso influenciará a gestão das empresas nos próximos anos?
O primeiro ponto é que as empresas precisam compreender o papel que desempenham em seu ecossistema. Isso pode ser feito por meio de tipos específicos de pesquisa de mercado, como os modelos Delphi, que indicam à empresa o que seus principais stakeholders esperam dela.
A partir desse conhecimento, é necessário refletir sobre a essência e o propósito da empresa, bem como o papel que ela desempenha, ou deveria desempenhar, na sua comunidade. A ideia aqui é montar estratégias para que o ecossistema perceba a empresa como um membro valioso da comunidade. Quando isso ocorre, a empresa começa a colher vantagens: fornecedores dedicam mais recursos, colaboradores se tornam mais engajados, a sociedade apoia suas iniciativas, investidores sentem maior segurança em continuar a investir e o custo de capital diminui. Portanto, a gestão do futuro é tentar tornar o ecossistema atraente.
Mas a interdependência precisa gerar vantagens mútuas. Ou seja, todos devem extrair valor das relações: fornecedores, distribuidores, clientes, consumidores, colaboradores, acionistas e a sociedade como um todo. Assim, a estratégia deixa de ser decidida de forma unilateral, pois, para se concretizar, é preciso convencer outros a participarem. São necessários planos mais flexíveis, mais adaptáveis e mais emergentes."
Marcos Bedendo in Exame.com